terça-feira, 20 de abril de 2010

O menino cresceu

O menino andava pela calçada, ao contrário da minha direção, e lendo um gibi. Ele ia pra escola, vestia um uniforme, era manhã cedo. Era gordo (até demais, para sua idade), branco, os cabelos pretos, lisos, molhados. Engraçado ele, porque a criança não tirava os olhos da sua revistinha. Mão me viu se aproximar, nem ao menos ergueu o rosto. Alguns passos adiante, havia uma árvore, cujo tronco ocupava metade da calçada. Um dos dois teria que se deter um instante para o outro passar. Eu já tinha desacelerado meu passo, quando a criança parou. Sim, ele parou. Parou a meio metro da árvore, sem tirar os olhos do gibi. Ainda inclinou a cabeça a fim de evitar bater no orelhão, que estava a mais de cinco palmos do seu fio de cabelo mais longo. Tudo isso sem tirar os olhos do gibi. O que será que havia de tão bom e importante naquela página para o guri não tirar os olhos do gibi nem ao menos para andar?

Eu sei, porque já fui assim. Houve uma época que tudo que era mais importante era saber como meu heroi predileto derrotaria o inimigo. O menino me lembrou como eu era, pois eu também acreditava que podia andar sem bater em nada nem em ninguém, sem desgrudar os olhos dos momentos dos personagens que me faziam acreditar que tudo era possível. Eu já fui assim, e morro de orgulho por isso.

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