terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Gatilho


P
assei a viver a partir do momento em que me atirei. A partir do momento em que o revolver estava apontando para meu peito e ainda assim segui em frente. É clichê, mas a morte e a vida andam juntas. Para mim, viver era passar longe da morte. E desses dias, tudo o que me resta são algumas páginas velhas na estante. Aprendi que se deve lutar pelo que se quer, mesmo quando seja tudo ou nada. Passei a viver a partir do momento em que poderia dar errado; passei a viver a partir do momento em que poderia levar um não na cara; passei a viver a partir do momento em que percebi que poderia não obter o que desejava, mas que eu deveria continuar tentando. Não sei, no mais profundo da minha alma, o que é viver e o que é morrer. Pessoas vivem mortas, ou morrem vivas (eu também já morri). Porem, viver feliz, só quando se joga.

Passei a viver a partir do momento em que me atirei. A partir do momento em que virei o revolver para mim e apertei o gatilho.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Quatro aprendizagens



Eu não queria ler esse livro, me era indiferente, e essa indecisão no título me repelia. Cheguei na loja e depois de dar uma olhada nos livros nacionais, perguntei à assistente se eles tinham o livro que eu queria. Ela ainda fez a menção de olhar para o computador, quando me respondeu com uma sinceridade deliberada: "Desculpe, mas nosso sistema está indisponível".

E o que é que eu tenho a ver?, pensei. Vocês são pagos para isso mesmo, buscar o livro que o cliente deseja, e não fazê-lo sair catando nessa livraria enorme. Anda, trabalha! É claro que eu só pensei. A atendente continuou no telefone com algum superior informando do serviço indisponível. Então saí à procura, contrafeito. Pilhas e mais pilhas de livros, procurei au-dessus, au-dessous, nada do livro que eu procurava. Estava perdido. Uns dez minutos de procura, entre tantos livros bons, achei dois de Clarice Lispector, Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres (romance, 1969) e A Bela e a Fera (contos, 1979). Saí, lógico, contrariado, pois não obtive o que desejava. Porém, o que me consolava é que eu estava levando para casa duas obras primas, no doubt...

Só não achei que iria me identificar tanto. Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres de repente tornou-se o livro da minha vida, que representava um momento pelo qual eu passava, passaria, ou ainda estava. Não dá para adjetivar muito, nem posso. Dizer que esse é meu livro predileto é dizer que eu sou a melhor pessoa do mundo. E isso ninguém pode dizer (pelo menos sem provas).


Somente três pensamentos que retirei do livro, para dar um gostinho:

"Nós ainda somos moços, podemos perder algum tempo sem perder a vida inteira. Mas olhe para todos ao seu redor e veja o que temos feito de nós e a isso considerado vitória nossa de cada dia... Falar no que realmente importa é considerado uma gafe... Temos sorrido em público do que não sorriríamos quando ficássemos sozinhos. Temos chamado de fraqueza a nossa candura... Mas eu escapei disso, escapei com a ferocidade com que se escapa da peste, e esperarei até você também estar mais pronta."

"Mas parecia-lhe que assim às vezes se guardava intocada para dar-se um dia ao amor, que ela queria morrer, talvez ainda toda inteira para a eternidade tê-la toda".

"Para os que jazem encarcerados (não apenas nas prisões) as lágrimas formam parte da experiência cotidiana; dia sem lágrimas é um dia em que o coração está endurecido, não um dia em que o coração é feliz. Visto que o segredo da vida é sofrer".

Tá, vai, mais um:

"E habituar-se à felicidade seria um perigo social. Ficaríamos mais egoístas, porque as pessoas felizes o eram, menos sensíveis à dor humana, não sentiríamos a necessidade de procurar ajudar os que precisavam - tudo por termos na graça a compreensão e o resumo da vida."

Porque aprender dá prazer.

fin

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Pré-Pós-Texto

Acabou, e eu queria repetir... Porque repetir o bom é melhor ainda. Como eu poderia continuar sem ter novamente aquela sensação? Porque a vida continua, e para que ela continue, muita coisa tem que acabar. Logo me veio à cabeça que: não seria melhor terminar enquanto estava perfeito? Por que não? Se está no fim mesmo, por que não terminar com chave de ouro? Eu só queria me despedir. Mas tenho a mania de dramatizar tudo, enquanto eu deveria agradecer e me orgulhar do que vivi. Eu só queria mais uma vez. Como eu poderia continuar sem ter novamente aquela sensação? Por que repetir o bom é melhor ainda. Acabou, e eu queria repetir...

(na verdade, esse post foi mais um pretexto para eu pôr a foto que tirei do nascer do sol por trás da Coluna de Cristal)

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

É carnaval !!


O carnaval é um período estranho. E mais estranho ainda é quem mora numa das cidades com a maior festa de rua do mundo e dizer que o carnaval é um período estranho. Mas é. Coisa que seriam proibidas em qualquer época do ano agora passam despercebidas, porque é carnaval. Milhares de pessoas saem às ruas ensandecidas, loucas para brincar, pular, festejar, e aturam de tudo (e todos), porque é carnaval.

Entre tudo isso, eu quis meu alívio, e veio de onde eu menos imaginei, de quem eu menos esperava: um belo rapaz jogou-me confete. E ele veio, e por um momento me salvou. São os meus "Restos de Carnaval". Compris?

Bom restinho de Carnaval a todos!

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Novas interpretações

Depois de um dia bem frustrado, onde tudo deu certo, e entrementes, tudo deu errado, resolvi escutar algumas músicas meio antigonas que estavam guardadas aqui no PC. Começei por Avril Lavigne, o seu primeiro CD (lançado em 2002), que apesar de não ser muito fã dela (nem fui, muito menos serei), admito que ele é bastante legal.

Sem ter muito o que fazer, não quis ouvir as mais conhecidas; entre umas e outras, acabei escutando Things I'll never say. Acabei gostando tanto que escutei durante toda a noite. Passei a me ver dentro da música, de repente meu subconsciente foi resumido em poucas palavras; coisa que não aconteceu anos atrás quando ouvi a música pela primeira vez e nem me lembrava mais que ela existia. Logicamente, a situação era outra. Eu era outro. Então espero que não continue gostando dela por muito tempo...

Sei que isso acontece com todo mundo, talvez todo o tempo. Mas achei so cool, so teen. ;p


Porque estou nervoso
Tentando ser tão perfeito
Porque eu sei que você vale a pena
Vale a pena, sim

Se eu pudesse dizer o que eu queria dizer
Diria que quero ir com você para longe
Ficar com você todas as noites
Estou te sufocando muito forte?
Se eu pudesse dizer o que eu queria ver
Eu queria ver você cair de um joelho
Case-se comigo hoje
Acho que estou deixando minha vida passar
Com essas palavras que jamais direi.