terça-feira, 10 de setembro de 2013

A resposta não.....

Ela estava na seção de leite em pó. Por algum motivo, coincidia com o local onde se achavam o que se chama de "comida de rápido preparo". Ele entrou no corredor, carregando seu carrinho de compras parcialmente cheio, e imediatamente ele soube, ainda que ignorasse o fato (ele era mestre em ignorar o que sabia), que aquela mulher estava, de alguma forma, impaciente.

Ela carregava nas mães alguns itens da feira, nem uma cesta utilizava. Um saco de feijão, uma lata de algo que ele não identificou, e uma lata maior de leite em pó, que provavelmente ela acabara de pegar; mas que por algum motivo, ela ainda estava escolhendo. Ele observou que sua sandália estava quase se partindo.

Ele passou por ela (antes ela o observara, seus olhos pediam uma conversa, "não, tô fora", ele pensou), então parou um pouco além dela, para ver sopas instantâneas. Alguns segundos de intervalo, a pessoa ao seu lado falo, com uma vez muito rouca e seca e frágil, e com uma simplicidade desarmada:

— O leite está muito caro, né? Meus Deus, como pode?

— É verdade — disse ele, com simpático desinteresse.

— Tá tudo muito caro, mas até o leite? A pessoa não pode mais viver.

Ele sorriu, e engoliu a seco.

— Na verdade, é pro meu neto, sabe? Eu falei pra minha filha não engravidar, tomar cuidado, mas não teve jeito. Parece que os filhos sabem que tem a mãe pra ajudar, aí eles relaxam, não querem nem saber.

— Isso é verdade — ele concordou. — Na minha família também tem disso. Rola até briga.

— Sério? — ela disse, e sorriu, evidentemente aliviada. — Tem jeito não. Ontem dei 150 reais a ela. Mas o que é que dá? A pessoa não passa nem um mês. Pega um leite que está ali em cima, por gentileza?

Ele assim o fez, e entregou-lhe assim que ela depositou a outra lata que estava nas mãos.

— Esse tá um pouco mais barato, e criança pequena não sabe a diferença, não — e sorriu de leve.

— Pois é — ele respondeu, dirigindo sua  atenção para as compras.

A mulher, conformada, se afastou.

— Obrigada. Fique com Deus.

Ele olhou para ela rapidamente. Ela estava satisfeita.

— Tchau — ele respondeu. Como seria melhor viver num mundo em que as pessoas de fato cumprimentassem, ou se despedissem, das outras outras com boa vontade e verdade. Ele, que estava acostumado a dar bom dia sem mal olhar para quem quer que seja.

Ele, naquele momento, naquela despedida, queria ter feito mais. Seu coração pedia que ele respondesse: "a senhora também. E que Deus abençoe seu neto."

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